MÊS DO IDOSO - O tempo passa voando
Ouve, filho amado, e aceita as minhas palavras, e se te multiplicarão os anos de vida. No caminho da sabedoria te ensinei, e pelas veredas da retidão te fiz andar. Em andando por elas, não se embaraçarão os teus passos, se correres, não tropeçarás. Retém a instrução e não a largues; guarda-a, porque ela é a tua vida. (Pv 4.10-13)
Amado filho! No dia em que este teu velho não for mais o mesmo, tem paciência em me compreender. Quando eu derramar comida sobre a minha camisa e esquecer de amarrar os meus sapatos, tem paciência comigo e lembra-te das horas em que passei te ensinando a fazer estas mesmas coisas.
Se, quando conversares comigo, eu repetir as mesmas histórias, que já sabes de sobra como terminam, não me interrompas e me escuta! Quando eras pequeno, ao ires dormir, eu tive de contar milhares de vezes a mesma história até que fechasses os olhinhos.
Quando estivermos reunidos e eu, sem querer, fizer as minhas necessidades nas calças, não fiques com vergonha. Compreende que eu não tenho culpa disso, pois já não as posso controlar. Pensa, quantas vezes, pacientemente, eu troquei as tuas roupas para que estivesses sempre limpinho e cheiroso.
Não me reproves, se eu não quiser tomar banho; sê paciente comigo. Lembra-te dos momentos que te persegui e dos mil pretextos que tive de inventar para te convencer a tomar banho.
Quando me vires inútil e ignorante na frente de novas tecnologias que já não poderei entender, te suplico que me dês todo o tempo necessário, e que não me machuques com um sorriso sarcástico. Lembra-te que fui eu quem te ensinou tantas coisas: comer, vestir-se e como enfrentar a vida tão bem como hoje o fazes. Isto é resultado do meu esforço, da minha perseverança.
Se em algum momento, quando conversarmos, eu me esquecer do que estávamos falando, tem paciência e me ajuda a lembrar. Talvez a única coisa importante naquele momento seja o fato de te ver perto de mim, me dando atenção, e não o que falávamos.
Se alguma vez eu não quiser comer, insiste com carinho! Assim como eu fiz contigo. Também compreende que com o tempo não terei dentes fortes, e nem agilidade para engolir.
E quando minhas pernas falharem por estar tão cansado, e eu já não conseguir mais me equilibrar... Com ternura dá-me a tua mão para me apoiar, como eu o fiz quando começaste a caminhar com tuas perninhas tão frágeis.
E se algum dia me ouvires dizer que não quero mais viver não te aborreças comigo. Um dia entenderás que isto não tem a ver com o teu carinho ou com o quanto eu te amo.
Compreende que é difícil ver a vida abandonando aos poucos o meu corpo, e que é duro admitir que já não tenho mais o vigor para correr ao teu lado, ou para tomar-te em meus braços como antes.
Eu sempre quis o melhor para ti e sempre me esforcei para que o teu mundo fosse mais confortável, mais belo, mais florido.
Não te sintas triste ou impotente por me ver assim. Não me olhes com cara de dó. Dá-me apenas o teu coração. Compreende-me e apoia-me como eu o fiz quando começaste a viver. Isso me dá forças e muita coragem. Da mesma maneira como eu te acompanhei no início de tua jornada, peço-te, que me acompanhes para terminar a minha.
Trata-me com amor e paciência, e eu te devolverei sorrisos e gratidão, com o mesmo amor que eu sempre tive por ti.
Atenciosamente,
Teu Velho.
Texto extraído de um folheto da Literatura Evangelística da IECLB. Por determinação do projeto, o nome do autor é mantido em anonimato.
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